A diversidade na ciência! Analisando os padrões da sociedade contemporânea e os efeitos da inclusão no campo científico.

Autor: Émerson da Costa Silva – Pesquisador e graduando em Engenharia de Produção pela UNISINOS. Atualmente, é membro do Pride Connection Brasil e Diretor de Ações Estratégicas da Associação Brasileira de Incentivo à Ciência – ABRIC.
Se discutirmos sobre ciência com as crianças, logo temos a comparação naquele personagem de histórias em quadrinhos, que ilustra a figura de um homem de jaleco, cabelos brancos, que vive dentro de um laboratório cheio de líquidos químicos e preparando diversos experimentos. A retratação histórica da ciência neste ponto, afeta diretamente no contexto social sobre a diversidade e inclusão de diversos grupos da sociedade na ciência, acendendo então as seguintes discussões: Quais os efeitos de tal visão sobre a ciência? E qual a importância de diversificar o ambiente científico na sociedade contemporânea?
 
O primeiro ponto seria de que de estas crianças não estão erradas e muito menos tem qualquer culpa nesta visão do cientista e pesquisador, pois esta foi a mensagem que lhes foi passada por muito tempo, seja nos desenhos animados, livros ou mídia em geral. O segundo ponto de destaque seria pensarmos em como esta figura de fato foi criada. Segundo Nilma Lino Gomes, pedagoga e a primeira mulher negra do Brasil a comandar uma universidade pública federal, temos a seguinte afirmação sobre a temática da diversidade: “A diversidade, entendida como construção histórica, social, cultural e política das diferenças, realiza-se em meio às relações de poder e ao crescimento das desigualdades e da crise econômica que se acentuam no contexto nacional e internacional. Não se pode negar, nesse debate, os efeitos da desigualdade socioeconômica sobre toda a sociedade e, em especial, sobre os coletivos sociais considerados diversos.” Ao longo da história foi possível observarmos um perfil específico de pessoa ocupando muitos dos espaços de poder existentes. Pessoa esta caracterizada normalmente como sendo homem, branco, cis e hétero. Ponto pertinente a isso, é trazermos ao centro do debate quais foram as reais mudanças que tivemos nestes mesmos ambientes. Quem ocupa hoje estes espaços de poder?
 
Buscar descrever a ciência é falar de conhecimento, como diz a própria etimologia da palavra, traduzida do latim, Scientia, e além de falar sobre conhecimento é retratar sobre resolução de problemas e capacidade de promover mudanças no mundo em que vivemos. Por centenas de anos não se colocava no mesmo grupo, de pessoas capazes de terem esta atuação, qualquer pessoa que representasse algo diferente do statuos quo já estabelecido. Com o passar dos anos e a forte movimentação dos movimentos sociais, grupos minorizados* começaram a assumir e a mostrar a importância de terem seu papel de protagonistas em nossa realidade, contribuindo na expansão da ciência e buscando mostrar a importância de estarem sendo atuantes, fazendo pesquisa mesmo perante todas as adversidades. Podemos citar como fazendo parte deste grupo de minorizados as mulheres, negros, indígenas, pessoas com deficiência(s) e os LGBTQI+.
[*O termo minorizados refere-se a palavra minorias e é categorizado a um grupo social de pessoas que são excluídas e colocadas a margem da sociedade, devido ao preconceito e a carência de políticas públicas que combatam essas desigualdades. Mesmo sendo maioria no Brasil, pessoas negras ainda são rotuladas como minorias, bem como pessoas da comunidade LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transsexuais, transgêneros, etc), pessoas com deficiência, indígenas, refugiados, mulheres e pessoas de classe social pobre.]
 
Pensar em ciência e pesquisa não é só pensar nos grandes problemas que assolam toda a humanidade, mas sim, pensar nas problemáticas diárias que afetam também o seu dia a dia, a sua família, amigos e comunidade. Não é possível imaginar e nem mesmo esperar que os mesmos de sempre sigam tentando resolver aquilo que nos afeta. Ninguém conhece melhor a sua realidade do que aquele que a presencia. A grande questão que, provavelmente, podemos entender, é que a humanidade não é igual, somos e temos necessidades completamente diferentes, somos pluralidade, e com total certeza esta não é um debate exclusivo e que cresce somente no nosso país. Segundo Abramowicz, Rodrigues e Cruz (2011), “O debate sobre diversidade focado na heterogeneidade de culturas que marcam a sociedade contemporânea, em oposição ao modelo de Estado-nação moderno, liberal e ocidental é uma realidade presente em grande parte dos países do mundo.
 
A todo momento se fala em sair da caixa e buscar novas ideias. Inovar é a palavra de ordem do momento. Precisamos abrir espaço e mostrar o poder transformador da valorização da diversidade no ambiente científico, assim como vem sendo feito em trabalho semelhante no ambiente corporativo. As contribuições para uma nova ciência devem partir de todos os grupos da sociedade. Toda a sociedade brasileira se beneficiará em ver toda a sua pluralidade presente nos meios científicos, nas organizações de fomento à pesquisa, na Academia Brasileira de Ciências e principalmente, no conjunto de nossos promissores jovens cientistas. Somente assim será possível ter um país mais inclusivo e competitivo, com mais inovação e olhando de fato para cada cidadão.
 
A única visão possível para os dias atuais é que a diversidade é benéfica para a ciência. Diversidade fortalece! Diversidade expande!
 
Referências:
 
ABRAMOWICZ, A.; RODRIGUES, T.C.; CRUZ, A.C.J. A diferença e a diversidade na educação. Contemporânea, São Carlos, n. 2, p. 85-97, ago.-dez. 2011.
 
Revista Educação & Sociedade (E&S) – Revista de Ciência da Educação. vol.33 no.120. Campinas, jul – set. 2012.

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